001F PC. LEVANTAI OS OLHOS
Lá fora, além das paredes
que te cercam e protegem,
longe do calor que te aquece
o corpo e o coração,
está a grande vinha do Senhor;
crianças que perderam os pais,
mil mulheres que vendem o corpo,
milhões de jovens
que procuram uma razão de ser;
povo, que é teu povo,
caminhando irremediavelmente
para o abismo...
Pára. Olha. Pensa. E ouve teu desafio
na própria voz do Mestre:
“Levantai os olhos e vede...
Vai hoje trabalhar na vinha...”
Ainda é tempo de obedecer,
alcançar a vinha aqui, ali, além;
sustentando aqueles que vão,
onde estiver um deles pregando a salvação,
tu estarás, também.
De Myrtes Matias
Tema: (63)Evangelismo Pessoal na Vida Cristã
005F PC. CAMINHOS DE DEUS
(Leia com autoridade espiritual, com veemência profética e com convicção cristã, em nome da igreja, falando a Deus ou aos seus adoradores no culto.)
“Somos caminhos que Deus usa.”
Senhor, do alto sei que vês melhor,
quanto mais se sobe, maior a visão;
Teus olhos abrangem a eternidade:
contemplam o sol em sua imensidade,
vêem o verme a se arrastar no chão.
Para que então ficar gritando ao mundo:
olha o que tenho, o que sei, que sou?
Se lá do alto vês o mundo todo,
Tu sabes, Senhor, onde eu estou.
Tu sabes por que vim ao mundo,
tens uma missão pra mim.
Nada mais falta que submissão,
dizer – Ordena. Abrir o coração.
Ouvir a ordem e obedecer assim:
Sem importar a obra que a mim couber,
ou o lugar em que meu campo esteja.
Pode ser obscura minha atuação,
o que me importa é Tua aprovação,
ser tudo aquilo que queres que eu seja.
Talvez não tenha a sorte das estrelas
que belas cintilam, dando inspiração.
Talvez meu campo seja o mais mesquinho;
que me importa, se me tornar caminho
por onde passe a Tua compaixão?
Foram caminhos os servos do passado,
através de História um traço de luz:
Abraão, Moisés, José, Rute, Davi,
Jonas, Ester foram no tempo aqui
apenas caminhos em direção da cruz.
Os que vieram depois também são caminhos
por onde a graça de Jesus passou
em busca do oprimido e do aflito,
caminhos que se fundem no infinito
no Único Caminho que um dia me salvou.
Agora, Senhor, a minha prece:
eu quero a graça de participar,
se não posso ser um caminho brilhante,
faze-me atalho na serra distante
mas onde o mundo veja Teu amor passar.
Usa-me, Senhor, durante todo o tempo,
para que no dia em que voltar ao céu,
possa dizer-Te, com um sorriso doce:
- Nada fiz, nada ajuntei, eu nada trouxe,
na terra fui apenas um caminho Teu.
De Myrtes Matias
Tema: (60)Testemunho na Vida Cristã
010F PC. ADORAÇÃO
(Leia com autoridade espiritual, com veemência profética e com convicção cristã, em nome da igreja, falando a Deus ou aos seus adoradores no culto.)
Voltar no tempo e no espaço,
viver na Galiléia,
rever, cena por cena, a vida de um Deus.
Acompanhar a estrela
para presenciar o estranho Milagre
de Deus aprisionando Sua onipotência
num corpo de Criança.
Acompanhar este “Senhor de quanto existe”
fugindo para a terra da servidão.
Vê-lO, bem mais tarde,
levantar do vício e do crime
o publicano e a meretriz.
Ouvir a voz suave:
“Vinde e aprendei de Mim,
que sou manso e humilde...”
Manso e humilde...
Tão humilde que se ajoelha no Getsêmane
para chorar a degradação da própria imagem.
Tão manso que caminha para o Gólgota,
sob a cruz, sem uma queixa.
Emudecer de espanto
ao ver este Deus-sem-lugar
ser suspenso entre o céu e a terra,
que não teve um berço para nascer,
“uma pedra para reclinar a cabeça”,
maldito sobre uma cruz.
Ouvir este Deus,
coberto de dor e vergonha,
prometer o paraíso e oferecer perdão.
Perdão...
Seu evangelho, Seu ensino,
Sua última palavra
até que o “Tudo está consumado”
alcançasse o céu
e as trevas cobrissem a terra.
Caminhar até o sepulcro
e encontrá-lo vazio.
Deixar Jerusalém e subir ao monte
para ver abrirem-se os céus e
cair de joelhos.
Porque todos os joelhos se curvam,
todos os lábios se calam,
para ouvir em prece:
“Este JESUS há de voltar um dia...”
De Myrtes Matias
Tema: (10)Vida, graça e amor de Jesus
015F PC. HÁ UM DEUS EM TUA VIDA
(Leia com autoridade espiritual, com veemência profética e com convicção cristã, em nome da igreja, falando a Deus ou aos seus adoradores no culto.)
Quando te vejo
tão acomodado ao mundo que te cerca,
como a água
tomando a forma do vaso que a contém,
eu me lembro
de um Rei coroado de espinhos,
arrastando uma cruz pelos caminhos,
pelas ruas de Jerusalém.
Quando te vejo
tão preocupado com rótulos e comodidades,
tão desejoso de aparecer,
eu me lembro de um jovem-Deus
perdido no deserto,
onde só feras e anjos O podiam ver.
Um jovem-Deus que te entregou um dia
o privilégio da Grande Comissão,
o Qual negas com tua covardia,
sucumbindo a promessas
que te falam à carne e ao coração.
Quando te vejo
tão ocupado em construir celeiros,
ajuntando fortunas que o ladrão pode roubar,
eu me lembro de um Deus
caído sob tuas culpas
sem o conforto de uma pedra para repousar.
Quando te vejo conivente
com aquilo que Ele aborrece,
ao ponto de ocultar a Herança
que Ele te legou,
pergunto: Seria falsa a promessa que fizeste
ou o amor que tu Lhe tinhas
era poucoe se acabou?
Onde está teu grito de protesto,
que já não escuto?
Tua atitude de inconformação?
Será que te esqueceste
do santo compromisso
ou te parece pouco
o privilégio da tua missão?
Por que tremes diante do mundo,
temendo por valores que só servem aqui?
Será que Cristo te escolheu em vão
ou será que já não existe um Deus
dentro de ti?
Tu estás no mundo, mas não és do mundo.
Não escolheste – foste escolhido.
Por que te encolhes ao ponto
de seres grande pelo padrão dos homens,
comprometendo tua autoridade
de condenar um mundo corrompido?
Foste escolhido para uma missão tão grande
que nem a anjos foi dada a executar:
não te assustem ameaças,
não te seduzam promessas,
numa obra eterna,
é melhor morrer do que negar.
Lembra-te que há um Deus em tua vida
que os teus atos devem glorificar
De Myrtes Matias
Tema: (61)Obediência e Submissão (a Deus) na Vida Cristã
020F PC. A ALEGRIA VEM PELA MANHÃ
(Leia com autoridade espiritual, com veemência profética e com convicção cristã, em nome da igreja, falando a Deus ou aos seus adoradores no culto.)
É maravilhoso despertar assim
com um hino no coração,
quando ainda ontem rodeavam-me
águas de angustias e solidão,
frágil parede se interpondo
entre mim e o abismo,
a pomba da esperança voltando ao abrigo,
sem o ramo de oliveira
que fala de águas baixando,
e do sol que volta a brilhar.
É certo que as horas se fizeram dias,
os dias se tornaram meses,
e a resposta não vejo ainda.
Mas, aqui dentro, Senhor, no coração,
sinto que a causa não está perdida,
que o corpo tomba, mas a alma não.
No momento certo,
Tu mesmo me abrirás a porta
sobre o Arará coberto de verde,
o sol no alto e no coração;
as águas de perplexidade e angustia
lembradas apenas para efeito
de contraste e gratidão.
Perdão, Senhor, pelo tempo
que Te estou tomando,
quando Tens todo um universo para dirigir.
Considera, porém, que não tenho ninguém
capaz de Te substituir.
Mas crê, é muito mais por amor
do que por medo
que preciso, tão cedo,
procurar a Tua direção.
Para enfrentar o dia que está nascendo,
é preciso Te ouvir, dizendo
que me amas, apesar dos pesares,
que não me abandonas,
mesmo quando erro,
que Tuas promessas jamais falharão.
Paro de escrever,
mas não de estar Contigo:
sem um Amigo
é impossível trabalhar na vinha.
Mantém, pois, a Tua mão na minha,
faze do meu dia um hino de louvor.
Que eu repita ao começar cada tarefa,
por menor quer seja onde for;
- Estou pronta. Qual é a ordem, Senhor?"
De Myrtes Matias
Tema: (54)Conforto divino (nas Aflições) na Vida Cristã
ACHEI O NASCENTE!
Myrtes Mathias
Às vezes, me sinto viajante em pânico,
sozinha no meio de uma rosa-dos-ventos
buscando orientação:
- Norte? Sul?
Leste? Oeste?
Onde estou?
Onde estão?
“ ...braços abertos: à direita, o Nascente:
o Norte, à frente...”
Imaginárias!
Não vejo nada, não vejo gente,
ou muita gente que não me vê!
E ali, sozinha, na hora parda,
do meio-dia, da meia- noite,
do meio da vida, pergunto eu:
- Como é possível encontrar o Norte,
se não consigo lembrar ao certo,
o lugar certo em que o sol nasceu?
Perdi o fio,
perdi o rumo,
perdi o prumo:
rosa-dos-ventos toda quebrada:
Nada e Ninguém.
Se houvesse luz,
ali parada,
braços abertos
buscando o Leste,
certo minha sombra
lembraria uma cruz...
Nesse instante,
Deus me recolhe.
Então, de repente,
há luz bastante.
E nesse instante,
sagrado instante,
já minha sombra não é uma cruz:
com visão nova,
não distorcida,
sigo em frente – achei o Nascente:
Vejo Jesus!
ACHO QUE POSSO
Myrtes Mathias
Piuiiiiiiii...
lá vem trenzinho “Acho-que-posso”,
devagar, devagarinho, para parar na estação
e pegar mais passageiros.
- Você aí, cansado, desanimado,
escutando gente que pensa que a gente
é doente para sempre, venha ligeiro.
- Não pode? Quem foi que disse isso?
Vamos lá. Tome seu lugar. Comece devagarinho
fazendo coro com o trenzinho:
...acho-que-posso-que posso-acho-que-poooosso!
Relaxe. Inspire fundo. Assopre bem,
fazendo biquinho.
Assim. Escute o apito: piuiiiii...
Acompanhe o sininho: delém, delém...
O trenzinho já vai subir a montanha.
Escute só: acho-que-posso-acho-que-posso...
Piuiiii... Acelerando. Segurando:
acho-que-posso-acho-que...
Na estação dos "critiqueiros", dos pessimistas.
tem gente apostando, pagando pra ver:
- Vai... não vai. Não aguenta a subida...
Ta desengonçado. Ta cansado.
Vai sair dos trilhos... escorregou...
Que gente boba! Que gente má!
- Não liga, não. Não perca tempo pra revidar,
pra se queixar, pra explicar.
Passageiro do “Acho-que-posso”
é gente de fibra, é gente que crê,
que segue sempre, até chegar.
É só lembrar quantas vezes já conseguiu,
de quantas enrascadas já saiu,
de quantas vezes chegou lá em cima
e viu, lá do alto, a paisagem pequenininha,
as casinhas de brinquedo, as pessoas-formiguinhas.
E bem mais alto, no céu azul, a luz do sol
atravessando as nuvens, para o cumprimentar:
- Viu? Conseguiu! Muito bem! Parabéns!
Cada vez que o trenzinho lembra essas coisas,
pega a bandeira, que faz de lenço,
limpa o suor, bota vapor e lá vai
resfolegando montanha acima:
acho-que-posso-acho-que-posso...
Posso. “Posso todas as coisas em Jesus
que me fortalece”.
A CRUZ DE CADA UM
Myrtes Mathias
E a mulher que contemplava,
através das grades, o filho condenado,
suplicava:
“Por que não me levas, Senhor?
Não vês a fragilidade de meus ombros,
minhas pernas cansadas,
minhas costas curvadas,
meus olhos baços de chorar?
Por que me deste uma cruz tão grande a carregar?”
E o POR QUÊ? eterno continua
no seio dos lares,
no meio das ruas...
E ninguém responde
aos desesperados gritos?
À tétrica sinfonia dos aflitos?
Ao por que dos condenados,
dos quase suicidas,
da mulher perdida,
do moribundo que parte
sem saber pra onde,
ninguém responde?...
E na pesquisa infinda
o homem se perde,
blasfema
e sofre mais ainda.
Citemos Jó, Sócrates
e outros heróis da fé e da filosofia.
Será mera utopia?
Responderão:
“Que me importa o sofrimento alheio,
se ele não minora minha própria dor?
Não me fale de fé quando não creio mais,
não me fale de amor
quando não tenho amor...”
Quem tem autoridade pra falar de Cruz?
Só Um através da eternidade
teve autoridade pra dizer:
- Toma tua cruz diariamente,
renuncia, se tu és um crente,
morre, se queres viver.
Porque há dois mil anos, no Calvário,
a humanidade ergueu uma cruz;
dela pendeu um corpo ensanguentado,
um Deus vituperado,
o vulto de Jesus.
Era a cruz de todos os cansados,
era o grande preço pra falar de cruz.
Aceita, pois, a dor que estás sofrendo
e sentirás teu coração batendo
em sintonia com o de Jesus.
Existe um fim em cada provação,
existe luz além do negro véu.
Fita as mãos marcadas do Deus-carpinteiro
por ti sangrando no rude madeiro
e sentirás mais leve
a cruz que Deus te deu...
A CRUZ DO MEIO
Myrtes Mathias
Ergue-se a cortina do tempo:
um bebê entre palhas, sorri,
uma virgem chora,
um ancião contempla...
Depois
uma mãe ansiosa que procura o filho,
um adolescente que responde:
” Preciso cuidar dos negócios de meu pai!”
Desenrola-se a cena:
Um homem no Jordão,
no deserto,
na Galiléia,
em Samaria;
Paralíticos andam,
cegos vêem,
mortos ressuscitam,
infelizes encontram consolo!
A cortina abre-se por completo:
Três cruzes...
Três símbolos de humilhação,
Culpa e dor.
Quem está a direita?
Um criminoso arrependido;
À esquerda?
Um revoltado, um réu recalcitrante.
E no meio?
Alguém que não se queixa;
que sofre em lugar de outros,
que tem nos olhos tristes a luz do perdão
e na cabeça pendida um gesto de benção.
Pára.
Olha.
Medita.
A cortina rasgou-se de alto à baixo:
um bebê entre palhas,
um adolescente entre doutores,
um homem no Jordão,
no deserto,
na Galileia,
em Samaria.
Depois...
Caminha mais um pouco.
Que vês?
Três cruzes...
Na do meio
um Homem que morre por ti.
Contraste!
O Homem que morre
é o Deus que te oferece a vida.
Pensa.
Medita.
Aceita.
Aceita o bebezinho entre palhas,
o adolescente entre doutores,
o Homem que faz milagres,
Esta cruz do meio!
Pesada e negra cruz da infâmia,
do sofrimento,
da humilhação de um Deus,
De um Deus que ama,
Perdoa e diz:
“Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso!”
ADORAÇÃO
Myrtes Mathias
Voltar no tempo e no espaço,
viver na Galileia,
rever, cena por cena, a vida de um Deus.
Acompanhar a estrela
para presenciar o estranho Milagre
de Deus aprisionando Sua onipotência
num corpo de Criança.
Acompanhar este “Senhor de quanto existe”
fugindo para a terra da servidão.
Vê-lO, bem mais tarde,
levantar do vício e do crime
o publicano e a meretriz.
Ouvir a voz suave:
“Vinde e aprendei de Mim,
que sou manso e humilde...”
Manso e humilde...
Tão humilde que se ajoelha no Getsêmane
para chorar a degradação da própria imagem.
Tão manso que caminha para o Gólgota,
sob a cruz, sem uma queixa.
Emudecer de espanto ao ver este Deus-sem-lugar
ser suspenso entre o céu e a terra,
que não teve um berço para nascer,
“uma pedra para reclinar a cabeça”,
maldito sobre uma cruz.
Ouvir este Deus,
coberto de dor e vergonha,
prometer o paraíso e oferecer perdão.
Perdão...
Seu evangelho, Seu ensino,
Sua última palavra
até que o “Tudo está consumado”
alcançasse o céu
e as trevas cobrissem a terra.
Caminhar até o sepulcro
e encontrá-lo vazio.
Deixar Jerusalém e subir ao monte
para ver abrirem-se os céus
e cair de joelhos.
Porque todos os joelhos se dobram,
todas as frontes se curvam,
todos os lábios se calam,
para ouvir em prece:
“Este JESUS há de voltar um dia...”
A ESTRELA AZUL
Myrtes Mathias
Era uma vez uma estrelinha muito prosa,
toda orgulhosa,
no céu instalada;
até que um dia,
talvez por castigo,
um astro,
fingindo-se amigo,
roubou-lhe uma ponta dourada.
Cheia de revolta,
batendo as mãozinhas,
‘’pelo desaforo! (dizia a chorar)
uma estrela que perde uma ponta
não é mais estrela,
não vou mais brilhar.’’
E a pobre estrelinha,
assim mutilada,
tornou-se problema na constelação;
antipática,
só pensando em si,
como se o mundo
desabasse ali
ao peso de sua humilhação.
‘’Ninguém gosta de mim (gemia a pobre),
só porque perdi minha ponta dourada.’’
E, enxugando uma lágrima comprida,
a estrelinha,
infeliz da vida,
tornou-se resmungona e mal-educada.
Oh! Era uma catástrofe no universo,
uma tristeza na constelação!
Tudo foi tentado,
nenhum resultado,
até chegar a estrela da Conformação.
Esta velha estrela
era mui sensata
e à estrelinha
ela aconselhou:
- Ainda és estrela,
pois tens quatro pontas,
torna bem brilhantes
as que Deus te deixou.
E a estrelinha
pôs-se a trabalhar
ingentemente,
em busca de luz;
só pensando
em ser útil e bela
(que este é o destino de uma estrela).
Ela esqueceu a sua própria cruz.
E nem notou
que sua cor mudara
para um azul brilhante e sem igual:
uma cor linda,
cheia de esperança,
alegre como um riso de criança,
bela como uma estrela de Natal.
E a estrelinha que fora problema,
drama,
tragédia na constelação,
passou a ser motivo
de alegria,
uma benção de Deus
em cada coração.
A FLOR E A ESTRELA
Myrtes Mathias
Pouco importa a ansiedade do jardineiro.
No seu castelo verde,
Ela se prepara com esmero
Para surgir formosa,
vaidosa mulher.
Até que,
numa bela manhã de sol,
Silenciosa e ocultamente,
A prisão se abre e ela aparece.
-Só Deus a teria feito!
- Exclama o jardineiro,
E toda a natureza o aprova.
A nova habitante do jardim
Traz consigo a beleza do céu,
que é sempre nova.
Mas, à noite,
olhando o céu,
Suspira a caprichosa:
- Ah!
Se eu fosse uma estrela!
Por que nasci somente uma rosa?
E, enquanto se lamenta,
a noite passa,
O sol aparece...
a flor fenece.
Ainda são verdes o caule e as folhas.
Mas, da grande aparição,
nada mais resta
Que pétalas sem cor,
Um perfume perdido no ar,
Uma saudade que fica.
E assim a flor se vai,
Sem entender que as duas são belas:
Uma é luz,
outra, perfume;
Uma é frescor,
outra, lume;
As duas,
obras de Deus.
Uma é a estrela da terra,
Outra é a rosa do céu.
Menina-moça entende teu papel
Quase mulher,
botão a entreabrir-se,
Ao ver-te de pé na encruzilhada,
Olhos muito abertos para a estrada
Onde se conjuga o verbo decidir,
Que escolhas bem o teu caminho.
A mocidade é flor,
dura um instante
O que fizeres será como a estrela:
Um brilho eterno,
mesmo que distante.
Escolhas bem, menina-moça:
Flor na terra,
estrela no céu.
A flor enquanto vive dá perfume;
A estrela eternamente é lume.
Que a tua mocidade perfume o mundo,
Que teus atos glorifiquem a Deus no céu.
A FLOR E O VENTO
Myrtes Mathias
Nada me pesa hoje,
a não ser o amor.
Mas o amor não pesa.
Levanta pesos,
afasta questionamentos, abre a janela, enriquece a alma, faz milagres de transformação.
Hoje, por exemplo,
antes que o olhar alcance o muro,
a chaminé da fábrica, a poluição,
o amor me faz ver o jardim,
e sentir que é um pouco meu,
com suas roseiras e companheiras que se balançam ao vento...
Um vento bom, que não levanta pó
e refresca o ar e a alma da gente.
E é, então, que me volta o pensamento:
será o vento que balança a flor ou será a flor que se balança ao vento? Isso tem importância?
Claro.
Toda descoberta é importante:
se é a flor que se balança,
tem que estar atenta e até ansiosa;
mas se ela apenas se inclina,
para lá, para cá,
à vontade desse vento
que ela nem sabe de onde vem,
nem para onde vai,
é apenas uma questão de sensibilidade, confiança,
entrega total.
Isso é lá com a flor.
E comigo, também.
Porque, nesta manhã de bem e luz,
a harmonia que me faz cantar assim é a paz de Deus reinando em mim!
AGORA
Myrtes Mathias
Se queres dar-me uma flor,
dá-me antes que eu morra...
Se podes hoje fazer o milagre
de um sorriso num rosto que chora,
não coloques flores sobre tumbas:
Se queres dar-me uma flor, faze-o agora.
Se podes dar um lar ao orfãozinho,
abrigo ao pobre que geme lá fora,
não encolhas a mão - Deus está vendo:
Se podes dar-me uma flor, faze-o agora.
Se conheces o Eterno Caminho
que leva ao templo onde a Alegria mora,
não guardes, egoísta, o teu segredo;
Se podes dar-me uma flor, faze-o agora.
Se podes dizer em uma frase linda
algo que faça a tristeza ir embora,
dize-a enquanto posso agradecer sorrindo:
se podes dar-me uma flor, faze-o agora.
O que farei das orações, das flores
quando no mundo eu já não mais for?
Aos pés de Deus eu as terei tão lindas
que não precisarei do teu amor.
Não esperes o instante da partida,
se podes me fazer feliz, faze-me agora.
Para que chorar de remorso e saudade?
Custa tão pouco a felicidade:
dá-me uma flor antes que eu vá embora.
A GRANDE ESCADA
Myrtes Mathias
“Sede santos porque Eu sou santo.”
Letras douradas, gravadas
no alto da escada
que se ergue entre a Terra e o Céu;
entre mim e Deus!
entre Sua ordem e meu desejo de obedecer.
Alta, íngreme, difícil, cansativa,
mas cada degrau é um hino de vitória,
um capítulo na história
de minha vida cristã.
“Sede santos porque Eu sou santo.”
Amor, gratidão, esperança,
desejo de tocar a Mão que me salvou;
degrau a degrau, vou escalando,
por amor à plenitude, renunciando,
fugindo ao mundo,
abandonando tudo que interrompa a ascenção.
Orando, clamando, prometendo, sofrendo,
subindo sempre,
passo a passo,
como Aquele que por mim orou:
“Santifica-os, eles não são do mundo
como também do mundo Eu não sou.”
Ele me salvou, me escolheu,
me fez participante da raça eleita,
sacerdócio real,
povo de propriedade Sua,
para que eu dê fruto,
testemunhe, brilhe nas trevas,
mostre ao mundo,
em minha própria vida,
o milagre que Ele fez em mim.
Separado, incompreendido, ridicularizado,
prossigo subindo,
mãos em prece a Sua tocando,
a ordem ouvindo:
“Sede santos porque santo Eu sou.”
No mundo gangrenado, corrompido,
de invertido senso de valores,
quando tudo falha,
quando tudo parece um fim de tarde
no caminho de Emaús,
uma luta inglória,
as letras douradas, no alto da escada,
fazem-me juntar as forças vacilantes,
e prosseguir os olhos no Amigo
até o porvir,
até a alegria da entrada no céu,
quando tudo esquecido,
com outros remidos,
gozar da presença eterna de Deus.
Até pisar da escada o degrau derradeiro,
para, enfim, com os anjos em glória cantar:
“Santo, Santo, Santo...”
quando, então, saberei porque me ordenou:
“Sede santos porque santo Eu sou.”
Quando, pleno de amor, irei repetir:
Obrigada, Senhor,
pelos momentos de renúncia,
pelos desejos vencidos,
pelos erros combatidos,
pela grande escada que me ajudaste a subir.
A HORA DE DEUS
Myrtes Mathias
Pronto, Senhor,
não vou mais lutar!
Como uma criança interna,
ou um encarcerado,
limitar-me-ei a cumprir o horário.
Na medida de minhas forças,
desempenharei as tarefas que me vierem
às mãos, simplesmente, humildemente,
sem pretensões a prêmios e promoções.
Não sei se cheguei ao nada ser
de alguns filósofos,
ou, ao "estou crucificado com Cristo"
do Apóstolo das gentes.
Não sei se é submissão ou fuga,
mas isto não importa,
nem altera o que está escrito
a meu respeito.
Nenhuma atitude alteraria
o curso dos acontecimentos.
Quer eu grite, quer me cale,
os montes serão sempre montes,
os vales serão sempre vales.
Sair destes para subir aqueles
é tarefa que não posso tentar:
acho que cheguei a Tiberíades
tal como Pedro quando foi pescar.
Tu és testemunha de que tentei,
mas meu protesto foi tão fraco
que ninguém ouviu;
meu esforço tão pobre
que ninguém levou em conta.
Sabes?
Não quero nem mesmo a fé.
Ela terá que ser um dom da misericórdia tua.
Daqui de dentro, por esforço próprio,
não sai mais nada.
Secou-se a fonte,
quebrou-se a ponte,
fiquei perdida ao pé do monte
que quis subir.
Não vou lutar,
não vou sonhar,
chegou a hora em que só Tu,
Deus feito amor,
meu Criador,
deves agir.
A HORA DOS PEQUENINOS
Myrtes Mathias
Senhor,
Só agora entendo porque chamaste
os cegos, os coxos, os mendigos
para encherem a Tua casa
e participarem da grande ceia.
Foi para vê-los assim felizes,
tão profundamente felizes,
que eles se sentem,
eu me sinto,
nós nos sentimos bons, sadios, ricos,
sábios, capazes de tudo.
Não és Tu o Médico perfeito,
o Senhor de todos os tesouros,
o Dispensador da felicidade,
a Alegria dos homens
e não passam a ser um contigo aqueles que Te aceitam,
que se assentam a Tua mesa?
Acho que chegou a hora dos pequenos,
dos que nada têm e nada podem,
que se apoiam em muletas.
A nossa hora.
Os grandes,os sábios, os ricos, os bem dotados
recusam-se a atender ao Teu convite,
repetindo o estribilho fatal
que dilacera Teu coração:
“Rogo-TE que me hajas por excusado.”
Pedi tanto para que fossem,
lembrei-lhes as bênçãos e os privilégios.
Falei, escrevi, orei, pedi, chorei.
Por que, Senhor?
Será que ainda hoje
queres aperfeiçoar na fraqueza Teu poder?
Ainda comes em casa de anões publicanos?
Ainda permites que uma mulher sem nome
Te enxugue os pés?
Se assim é,
- “Eis-me aqui, envia-me a mim.”
Para onde? Para quê?
Tu o sabes.
Tu sabes todas as coisas.
Pode ser apenas para morrer por Ti,
para repetir a silenciosa história do grão de trigo.
O importante,
o sublime,
o maravilhoso,
o milagre é que estou aqui.
Não mais apoiada em muletas de falsos valores
- não mais mutilada, parte apenas do meu ser,
mas toda, vontade e coração, passado, presente, futuro,
repetindo como Isaías:
“Eis-me aqui, envia-me a mim.”
Para onde? Para quê?
Não sei e não importa.
Tu sabes todas as coisas,
Tu tens todo o poder:
e isto me basta, porque confio em Ti.
AMOR DE DOIS
Myrtes Mathias
Já que não consegues retribuir
o que me inspiras
ou o meu sonho vê;
já que me escapas,
distante, mesmo presente;
já que o amor se torna ridículo,
sem reciprocidade;
um fardo, quando por dever;
resta-me amar por dois:
tanto, que compense o “déficit”
que, inconscientemente, deixas
e minha alma exige
para ser feliz...
AMOR É SÍNTESE
Myrtes Mathias
Por favor, não me analise.
Não fique procurando
cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise
profunda, quanto mais eu!
Ciumenta, exigente, insegura, carente,
toda cheia de marcas que a vida deixou:
veja em cada exigência
um grito de carência,
um pedido de amor!
Amor, amor é síntese,
uma integração de dados:
não há que tirar, nem pôr.
Não me corte em fatias,
(ninguém abraça um pedaço),
me envolva toda em seus braços
e eu serei perfeita, amor!
ANEL DE GRAU
Myrtes Mathias (Recordando Helinho)
Tudo é branco neste estranho mundo:
as paredes, as roupas, as “sombras”.
Só os corações são cor da noite,
porque a dor é negra e fria.
Os homens de branco entram
e balançam a cabeça.
A esperança foge com a lentidão
do soro, que desce gota a gota.
Os olhos vítreos do doente,
os olhos úmidos dos sãos,
fixam-se no homem de branco,
homem que sorri sempre,
com piedade profissional.
- Quarto de hospital,
sala de emergência –
campo de batalha do invisível,
terra do adeus,
porta da eternidade,
palco de último ato.
Ali estava ele...
Não mais o bebê que embalei,
o menino que ajudei a crescer,
o adolescente que vi lutar.
É pouco mais que uma criança
mas já é alguém que vai partir
para a longa viagem sem volta.
O líquido que cai em sua veia
não o fará sorrir outra vez.
Talvez não espere o amanhã,
nem mesmo veja a mulher
que o trouxe ao mundo,
que o chamava “menino de sua mãe”...
Tomo-lhe a mão e ele volta os olhos
- último olhar –
interrogação sem resposta:
“Por que estava alí?
por que choravam?
por que aquele silêncio?
aquela vontade de dormir sempre?
aquele desejo de fazer nada?”
Era jovem,
amava a vida,
sabia lutar!...
“Mas ainda há uma esperança”
(o homem de branco disse)
e esta pobre flor verde dos infelizes
começa a desabrochar outra vez.
Olho sua mão – o anel.
Seu anel de formatura.
Anel que eu prometera
e pelo qual lutara
com heroísmo e sacrifício.
Se esperasse...
Amanhã.
“... anel de grau...
estrela inacessível de menino pobre.
Um mundo de heroísmo e sacrifício,
de noites em claro,
cansaço,
lutas,
fome até...
Não passa de uma pedra cintilante
e um arco de ouro,
mas é muito mais:
o esforço de uma mãe,
as orações de um pai,
a batalha travada por um jovem...”
O silêncio continua,
o soro desce gota a gota,
o sono vence os que velam.
No meio da noite há o chamado:
não haverá amanhã.
Partira.
Sem ver a mulher que o trouxera ao mundo,
sem usar o anel,
sem dizer adeus,
sem saber por quê.
Suas mãos não esperam mais o anel,
estão cruzadas, brancas, inertes, frias.
Há um quase sorriso em seu rosto
porque não precisará mais nada,
porque não vai mais sofrer,
porque no céu há algo mais belo,
infinitamente mais belo
que um simples anel de grau...
Meu irmão, a vida é um momento,
trágico momento de uma oportunidade;
faze o bem que podes no instante agora
ou verás passar o tempo e a vida ir embora
como frágil sopro em meio à eternidade.
Não deixes para o amanhã incerto
a entrega do presente comprado na cruz.
Se o amanhã não vier,
milhões irão pro inferno
para sofrerem o tormento eterno
só por não ouvirem falar de Jesus.
Se tens a resposta à multidão cansada
que geme angustiada, sem paz, sem luz,
renuncia a todo comodismo,
sofre, se assim for preciso,
mas responde ao brado:
“Queremos ver Jesus!”